sábado, novembro 11, 2006

A palavra ao leitor

Vítor Dias, membro do Comité Central do PCP, reagiu na caixa de comentários do Corta-Fitas a esta posta e também a esta, ambas assinadas pelo João Villalobos, complementadas com esta do Duarte, com reflexões que entendemos oportuno transpor para o corpo principal do blogue e transcrevemos de seguida.

Apesar da benevolência de Duarte Calvão com a minha opinião que foi publicada, não posso deixar de chamar a atenção geral para que pode haver muita injustiça neste comentários porque não se está a ver nem os bastidores da cena nem a ter em conta a natureza e dificuldade destes trabalhos jornalísticos.
Ou seja, certamente ninguém disse só aquilo que foi publicado, disse muito mais, mas os jornalistas neste tipo de peças têm de escolher uma frase ou duas de cada pessoa mesmo que ela tenha dito dez.
Esperando que o Pedro Correia e o Fernando Madail entendam que este meu comentário é de compreensão para com eles, acho que é pedagógico contar em concreto o que aconteceu comigo.
Os autores da peça acharam por bem ou melhor apenas seleccionar uma frase minha que, implicitamente, induz a ideia da superação do capitalismo.
Ora a verdade é que, na parte do depoimento que prestei sobre o que é «ser de esquerda», não estava incluida essa ideia mas sim sete ou oito linhas de outros objectivos e valores.
De seguida, eu dizia que, como se acabava de ver, tinha optado por formulações que fossem inclusivas de uma maior pluralidade de pontos de vista de esquerda.
E só depois é que acrescentava que, naturalmente, considerava que "ser mais coerente e consequentemente de esquerda" (o que é diferente de simplesmente "ser de esquerda")implicava o «não achar que as sociedades actuais e os sistemas de exploração e dominação que comportam são o último patamar da história».
Ou seja, apesar do Duarte Calvão a preferir a coisas vagas, a verdade é que a minha opinião sobre o que é «ser de esquerda» apareceu «radicalizada».
Mas, percebo que, para os jornalistas, a alternativa era escolher um ou dois dos sete ou oito valores e objectivos que eu tinha referido na minha resposta, até com o risco de serem semelhantes ao de outros depoimentos.
Em resumo, é necessário um pouco menos de precipitação e inflexibilidade nestes julgamentos de afirmações seleccionadas pelos jornais.


Vítor Dias