A volta do Paulo
Parece que António Pires de Lima - que, note-se, acabou de suspender o seu mandato de deputado para se dedicar de corpo inteiro à vida empresarial - diz hoje ao Público e ao DN que Paulo Portas poderá regressar em 2007. O gestor diz que Portas é "um valor seguro" e que é "desejado por muitos militantes". E abre caminho para um congresso no próximo ano. A hipótese não é descabida e tem algum fundamento, suspeito até que já existem movimentações nesse sentido - embora o conclave (que palavra horrível) só interesse a Portas lá mais para o meio de 2008. Mas eu acho que Portas, a regressar, vai querer "abafar" o mais possível o PSD, o mesmo que esteve consigo no Governo até há menos de dois anos. Esse sempre foi o seu sonho, desde a morte do seu ídolo de juventude, Francisco Sá Carneiro, e da sua desfiliação definitiva da JSD, seguida de aproximação ao CDS, filiação no PP e reconversão do velhinho CDS em partido do arco governativo.
O pacto da Justiça e as discussões na praça pública entre várias figuras do PSD sobre a necessidade de poderem existir mais pactos, bem como a entente cordiale (seguida de alguma animosidade temperada) entre Sócrates e Mendes são a passadeira encarnada que Portas espera e deseja para se atirar naquela que será a sua grande empreitada. Reduzir o PSD àquilo que valeu em tempos o PS de Almeida Santos (nos vinte por cento) e inchar o CDS para, na legislatura seguinte, ser o principal partido da oposição a Sócrates. A ideia é simples: Portas volta a baralhar o CDS, que na nova versão irá aparecer escudado numa série de gente de fora da política (e bem pensante, se possível), e puxa pela ideologia, coisa de que tanto gosta.
Daí que, nos últimos tempos, tanta e tanta gente tida como próxima de Paulo Portas tenha rejubilado com o pacto Sócrates-Mendes. E tenha também, antes disso, procurado saber junto de gente influente do PSD as verdadeiras hipóteses de Mendes se aguentar até às eleições legislativas de 2009. Se isso acontecer, cheira-me que ele volta.