domingo, setembro 17, 2006

Domingo na cidade

Lisboa despovoada de gente. Quero dizer: daqueles que contam para as estatísticas oficiais, que são contribuintes líquidos dos cofres do Estado, que assumem a sua quota-parte no produto interno bruto, que são cidadãos eleitores devidamente recenseados. Estes desaparecem aos domingos, afogados na imensidão dos subúrbios. Sobram, despejadas ao acaso pelas artérias da capital, as figuras espectrais da cidade. Os marginais, os velhos, os solitários sem remissão. E os brasileiros, muitos brasileiros. Passo por eles, costumam andar em bandos, lá vêm na sua algaraviada. Quase sempre de ar mais alegre do que os portugueses. Mas são gente humilde: não ganham mais do que o salário mínimo. Servem à mesa em cafés ou restaurantes, fazem limpezas domésticas, transportam pizzas aos domicílios da classe média.
De manhã muito cedo já despontam em ruas e avenidas. Se não fossem eles, e uns quantos turistas que por aí andam, a cidade parecia ainda mais inóspita em cada domingo que passa.