A palavra ao leitor
Na sequência disto que ontem escrevi, em resposta a um artigo dele no Público, Vítor Dias enviou-me o seguinte texto, já incluído na caixa de comentários da respectiva posta, mas que se justifica ser transcrito aqui no blogue. Segue na íntegra. E sem mais comentários: limito-me a registar a urbanidade da resposta, o que aliás não me surpreende.
"Apenas algumas observações em fim de controvérsia:
1. Está visto que, por razões de formação, de sensibilidade ou até geracionais, não nos entenderemos sobre o significado de elencar ou sublinhar os lapsos de uma pessoa com 80 anos. Os casos que invoca de Santana Lopes e Cavaco Silva não são da mesma família. Perante eles, e dada a idade à época muito mais baixa dessas personalidades, a conclusão que se podia tirar era que revelavam uma certa falta de cultura. Já a conclusão a que a citação dos lapsos de Mário Soares conduz é, dada a sua idade, de natureza diferente e o P. Correia sabe tão bem como eu qual é.
2. Pedro Correia está também enganado quando afirma que «nenhum partido como o PCP produziu os mais soezes ataques a Soares nas últimas três décadas». Deixando de lado a qualificação de «soezes», P. Correia não devia ignorar que, desde que Mário Soares foi eleito em 1986 para Presidente da República, que o PCP e Mário Soares assumiram em geral um comportamento de respeito recíproco e um correcto relacionamento institucional. Ou seja, P. Correia situou em três décadas o que manifestamente não aconteceu nas duas últimas décadas.
3. Neste «post», P. Correia afirma que tratei Pacheco Pereira como “serventuário da Administração americana”. É redondamente falso. Referi-me não à pessoa mas ao seu discurso, o que faz a sua diferença. Textualmente, o que referi foi «o discurso sofisticado e académico (embora sem lapsos) mas serventuário e reverente de Pacheco Pereira perante a política da Administração norte-americana.»
4. Não percebo porque razão é que eu tinha obrigação de identificar o blogue como sendo o corta-fitas. Aqui o que conta é que não procedi a nenhuma descontextualização das suas afirmações. Ao citar 102 das 150 palavras do seu "post" permiti de forma bastante liberal que os meus leitores soubessem o que, de essencial, o Pedro Correia tinha sustentado. Neste domínio, o Pedro Correia tem, a meu ver, pouca autoridade para falar: ou está esquecido do ridículo «banzé» que montou no DN por causa de uma «gralha» numa manchete do Avante!, sem sequer se ter dado ao mínimo exigivel de contactar previamente o Gabinete de Imprensa do PCP sobre o significado da referida manchete?
5. Por outro lado, acho curioso que P. Correia, que faz tanta questão de eu ser identificado como «dirigente do PCP» ache uma cavilosa intenção eu tê-lo identificado como «jornalista do DN».
6. Registo ainda que Pedro Correia se juntou ao grupo de críticos dos meus artigos que parecem estar mais preocupados com a forma como sou identificado pelo «Público» do que com as ideias ou posições que defendo na coluna do «Público». Devem querer dar cabo do meu ego, ao insinuarem que, após 32 anos de intervenção pública em democracia, os leitores do «Público» não sabem - ou não intuem - que sou comunista e dirigente comunista.
7. Mas, neste âmbito, o que mais importa esclarecer é que o critério de identificação foi do «Público» que aliás não me convidou como «dirigente do PCP». Aliás, não houve nenhum especial «encobrimento» para a minha pessoa porque no «Público», por exemplo, o João Teixeira Lopes, ex-deputado e dirigente actual do Bloco de Esquerda, é identificado como sóciólogo. Mas o mais engraçado desta parte é que vamos todos ficar à espera que, na segunda-feira, o Pedro Correia, quando chegar ao seu jornal, vá a correr à direcção dizer que é indecente a Joana Amaral Dias ser identificada pelo DN como psicóloga e não como «dirigente do BE» ou «membro da Mesa Nacional do BE». O que julgo acontecer é que estes dois jornais resolveram identificar os seus colunistas pela sua actividade profissional exclusiva ou predominante, que no meu caso já não é a de funcionário do PCP. Quanto à curiosidade do Pedro Correia sobre o «consultor de quê?» , por razões de princípio, não sinto nenhum dever público de ter de explicar concretamente como ganho - honestamente - a vida."
Vítor Dias