Cavaco: as coisas são o que são
Tomás Vasques e Jorge Ferreira reagiram, nos respectivos blogues, às reflexões que aqui deixei a propósito das relações entre Cavaco Silva e a direita que esperava dele a condução das acções de oposição ao Governo socialista.
O que escreveram suscita-me os seguintes comentários:
1. Estamos de acordo no essencial, caro Tomás. Não faço, no entanto, uma leitura tão tacticista dos supostos desígnios de Cavaco Silva. Desde logo porque, como já anotei no Corta-Fitas, não creio que o actual Presidente ambicione um segundo mandato, introduzindo assim uma inovação nos nossos hábitos políticos. Também me parece evidente que Cavaco "não acredita nos méritos governativos da actual direcção do PSD", o que ajuda a reforçar a boa relação institucional que estabeleceu com José Sócrates. Falta sublinhar um aspecto que não mencionei anteriormente: Cavaco revê-se no perfil psicológico de Sócrates, sem dúvida semelhante ao seu em aspectos decisivos. Às vezes estes pormenores ajudam a explicar melhor determinados comportamentos do que as mais elaboradas análises políticas. A muitos que votaram nele, pensando que de Belém partiriam os disparos decisivos contra o estado-maior socialista, estes primeiros seis meses de mandato só podem ter sido frustrantes. Pois é: o tiro saiu-lhes pela culatra.
2. Naturalmente, "o facto de Cavaco Silva ter tido o voto da direita não significa que ele seja de direita", caro Jorge. À direita, concedo, "só teve ilusões quem quis". Mas convenhamos que foi muita gente. Alguns já andam aí a rosnar as primeiras pragas contra Belém na blogosfera, o que me parece lógico. Como gostava de dizer Victor Cunha Rego, as coisas são o que são.