A bater no fundo
Sábado, ao fim da noite, o meu enteado Francisco e eu saímos do Estádio de Alvalade cabisbaixos, com a derrota “batoteira” do nosso Sporting. Depois, o resto do fim-de-semana, foi acompanhado por uma ligeira sensação de amargura, já habitual nestas ocasiões, tendo eu me dedicado com afinco a “coisas bem mais importantes” e sem querer mais saber de “bola”.
Agora já passou, e reafirmo a minha convicção que uma equipa de futebol para se sagrar campeã em qualquer campeonato tem de ter estofo para ultrapassar a incompetência de um árbitro ou a deslealdade do adversário.
Mas neste “caso”, o que realço de particular importância é a degradação do ambiente à volta do futebol. Com o acumular de denúncias e o gradual desvendar da podridão do “sistema” ninguém mais vai acreditar mais em ninguém. Mesmo que selectivamente, consoante as conveniências!
O jogo está desvirtuado, a organização do futebol português bateu no fundo. E, no campeonato que agora se inicia, cada caso que aconteça ampliará a evidência da obscenidade dos nossos dirigentes desportivos, e a emergência de uma “limpeza e moralização” do meio.
Hoje, legítima ou ilegitimamente, a revelação das escutas telefónicas esfrega-nos na cara a todos a imoralidade, a ciganice e a incompetência que grassa nas estruturas da FPF, da Liga e do dirigismo em geral.
Como é que eu explico aos meus miúdos que dirigentes desportivos presentearam árbitros com prostitutas e jóias? Que traficam entre si influências e negoceiam despudoradamente os árbitros da sua conveniência?
Finalmente, como é que o adepto agora vai encarar um erro de arbitragem, conhecendo as trafulhices entre os dirigentes de clubes e os mafiosos caciques “da bola”?
Receio que só há dois caminhos no futuro próximo: ou continua tudo na mesma, e os clubes (hoje empresas) por certo não sobreviverão à cultura da aldrabice e incompetência - com o consequente divórcio dos adeptos e patrocinadores que alimentam o circo; ou então faz-se uma revolução e limpeza de fundo, doa a quem doer. Custe a quem custar. A civilização (e educação) só se constrói com coragem. E às vezes com dor.