segunda-feira, setembro 18, 2006

Rescaldo

Já que, por aqui, não se fala noutra coisa a não ser do Sol que fez lá fora, vamos ao rescaldo da guerra dos semanários. Gostei de ver a remodelação do Expresso há uma semana, mas confesso que achei o jornal fracote ao nível do conteúdo. Muito bonito, bem desenhado, mas quase sem notícias e matéria para ler. O formato berliner não permite grandes aventuras (daria um lindíssimo jornal diário). Na edição deste sábado, contudo, o Expresso emendou a mão. Está muito melhor, é uma evolução notória. Embora não tenha mais informação, em quantidade, tem-na em qualidade. A manchete é bem melhor do que a do novo concorrente directo (e, aliás, a manchete está na última do Sol... Fugas?); a revista tem uma reportagem excelente do Hugo Franco (que deu os primeiros passos no jornalismo com o nosso Nuno) sobre a jovem investigadora Vanessa, brutalmente assassinada na Amazónia; e o caderno de Economia está francamente bom. O ponto forte, quanto a mim, são as páginas de opinião (há uma dupla excelente), as de reportagem e o suplemento cultural, que continua a valer a pena ler.
Quanto ao Sol, destaco a ousadia de várias secções novas; a revista Tabu, com um belo trabalho de Felícia Cabrita sobre a troca de duas crianças; e o caderno Confidencial. A manchete não me pareceu a melhor para um número um. Isaltino é chão que já deu uvas. A análise de José António Saraiva vai continuar a ser um must por várias razões; a entrevista de Maria Filomena Mónica faz jus ao nome e é imprevista. E improvável. Acho que MFM tem coisas bem mais interessantes para dizer do que falar da vida privada dos nossos políticos. Mas pronto, parece que aquele é o registo a ser adoptado. Será uma secção muito lida, sem dúvida. A análise de Marcelo também é para ler, a de Portas nem por isso. Só se resolver deixar de tentar ser o nosso André Malraux, versão séc. XXI. Num momento em que se sabe que poderá voltar a disputar a liderança do CDS, queremos saber tudo menos o que anda a ler. A colocação do artigo a competir com o comendador (na última da revista) proporciona essa abstracção.
Resumo: a luta promete. Por vício e obrigação profissional, vou continuar a comprar os dois jornais. Veremos se o Expresso aguenta a embalagem depois do fim da promoção dos DVDs. Sobretudo porque parece-me que terá de aumentar o número de páginas do seu primeiro caderno. Ou então quem durante anos comprou aquilo a que se convencionou chamar de "espesso" notará a diferença. Tem que ter mais para ler, porque o jornal é belíssimo, mas isso não chega. Um amigo meu contou o número de notícias do Expresso a comparar com os dois diários de referência. Enquanto o semanário tinha cerca de 50 no primeiro caderno, os diários tinham os dois mais de 70. Tem também de recuperar a influência política que foi perdendo ao longo dos últimos anos. O Sol, esse, há-de atacar justamente por aí. JAS, José António Lima e Mário Ramires não brincam em serviço e quererão fazer do Sol o novo Expresso.
Para já, a suposta guerra faz aumentar a compra de jornais e o número de leitores. O semanário fundado por Balsemão tirou 200 mil jornais, o Sol mais de 120 mil. Se foram todos vendidos, é obra. Significa que há quem esteja a mudar, a inovar e a apostar em alargar públicos. Sem medos.