sexta-feira, setembro 22, 2006

Apesar de tudo

Apesar de tudo o que já aqui se disse e escreveu, entendo que reflexões sobre o estado do País, como as que o Compromisso Portugal vem fazendo, são de grande utilidade. Desde logo porque acrescentam vários pontos à discussão, fazem avançar alternativas, mesmo que muitas delas não sejam concretizáveis a curto, a médio ou a longo prazo. É a vida.
Apesar de tudo, também consigo distinguir umas propostas das outras. Desde logo, acho que a redução gradual, em cinco anos, da taxa de IRC, que é hoje em dia de 25%, é uma boa proposta. O autor foi Alexandre Relvas, que foi director de campanha de Cavaco Silva nas últimas presidenciais. Relvas garantiu que a descida seria um “factor diferenciador de atracção de investimento para o País” e afiançou que o ideal era que a taxa se situasse entre os 10 a 12,5%. Talvez se propostas como esta fossem aceites e postas em prática o País não estivesse como está em termos de investimento e estrangulamento financeiro das empresas. Talvez a GM não fechasse a fábrica da Azambuja - que tanto trabalho deu ao meu avô fundar há mais de 40 anos -, depois do Governo (em especial Manuel Pinho) andar semanas a trocar o passo e em negociações que saíram completamente furadas. Porque a decisão estava tomada há muito. Porque o País deixou de ser competitivo há muitos anos.
Apesar de tudo, não foi só Relvas que teve bom senso. Repare-se nesta frase de José Maria Ricciardi: "A liberalização dos despedimentos, num país com uma classe empresarial como esta, era um risco que eu não correria".
Apesar de tudo, esta segunda convenção do Compromisso Portugal valeu também pelos nomes estrangeiros que conseguiu trazer. Sobretudo Alan Dukes, antigo ministro das Finanças irlandês, que explicou o milagre irlandês, com a aposta na inovação e na educação.
Apesar de tudo, foi bom de ver que José Sócrates não esteve sequer interessado em receber o documento provocatório do Compromisso Portugal. Mas antes das últimas eleições agradeceu e esfregou as mãos de contente quando este grupo de economistas e gestores considerou os programas do PS e do PSD como praticamente iguais. Na altura, apesar de a maior parte deles ser do centro-direita, escreveu-se que havia boas propostas nos dois programas. O que deu muito jeito a Sócrates, para seduzir o eleitorado do centro e adensar a bruma. Aliás, parece que aquela análise tinha algo de premonitória, os pactos estão aí.
Apesar de tudo, o Correio da Manhã inseriu o tema nas páginas da secção de política e não de economia.

(imagem: "Glória dos Santos")