Aos meus amores tão dedicado
«...uma cidade que tolera um tal índice de degradação, uma cidade que confunde merda com movida, uma cidade assim perdeu o respeito por si própria».
Completamente de acordo, Eduardo: O Bairro Alto mete medo. Vai para 22 anos, comecei a frequentá-lo. A Guida ainda gorda abria a porta do Frágil e, no bar, o Daniel Blaufuks servia copos para pagar as fotografias que revelava, na banheira de casa. A Paula eterna-estudante-de-Direito ainda não tinha tomado conta do Artis mas por lá servia as afamadas tostas de frango enquanto o Mário segmentava a clientela. No Tertúlia o casal mais simpático do Bairro, a Zita e o Eduardo, ainda não tinham feito as malas para o Brasil. Na casa de banho da Jukebox injectavam-se os junkies e, poucos metros acima - passada a fronteira invisível que nos separava - os chulos, as putas e os verdadeiros cromos do Bairro assistiam à invasão do seu território por artistas, pretensos artistas, candidatos a artistas e, claro, jornalistas.
Hoje, o Bairro é uma suja e graffitada ficção do que foi. Um foco de baixa criminalidade e de baixos instintos. Com lojas de design "prafrentex" rodeadas de escombros, lixo e copos de plástico, porque hoje tudo se bebe em copos de plástico descartáveis como as noites que lá se vivem.
Já morei no Bairro Alto, Travessa das Salgadeiras. Quando o visito, não me sinto nostálgico. Só envergonhado. Mesmo que os turistas achem, tudo aquilo, «very tipical». Indeed.