Os fins e os meios
As palavras lapidares de Albert Camus contra o terrorismo, proferidas em 1957, logo após ter recebido o Prémio Nobel da Literatura, ecoam nestes dias em que o Médio Oriente volta a estar a ferro e fogo. “Sempre condenei o terrorismo. Devo condenar um terrorista que opera cegamente nas ruas de Argel e um dia pode atingir a minha mãe e a minha família. Acredito na justiça, mas defenderei a minha mãe antes da justiça”, disse o escritor francês perante um auditório de estudantes em Estocolmo.
Ele sabia do que falava. Até porque esteve sempre do lado certo, sem a duplicidade moral que caracterizou a maioria dos seus pares das letras francesas daquela época. Não basta ser justa a nossa causa: é fundamental não a tornarmos injusta pelo meios que empregamos. E nenhum meio pode ser tão injusto como a bomba que estoira à hora mais inesperada, no local mais surpreendente, à mercê de um capricho de ocasião e a coberto da impunidade do acaso. Na Argélia natal de Camus como em qualquer ponto do globo nos nossos dias.
“Na perspectiva do marxismo, cem mil mortos nada são, afinal, se fizerem a felicidade de centenas de milhões de pessoas. Mas a morte certa de centenas de milhões de pessoas, em troca da suposta felicidade das que escaparem, é um preço demasiado caro. O progresso vertiginoso dos armamentos, facto histórico ignorado por Marx, obriga a uma reformulação do problema do fim e dos meios”, assinalou ainda Camus. Nenhuma reflexão podia ser mais actual que esta.