Jornalistas e assessores
Chegou a vez do Francisco sentir na pele os efeitos de uma discussão que, de tempos a tempos, se instala entre jornalistas. A passagem de um jornalista 'para o outro lado'.
Meto-me ao barulho, porque, como o Francisco sabe, estranhei a sua opção. Não por achar errado ou indigno. Não acho que essa profissão seja indigna. Simplesmente, não pensava que esse tipo de trabalho o atraísse.
Para mim, o cerne da questão não está na ida de jornalistas para as assessorias de imprensa. Está no regresso aos jornais.
Há quem ache que esse regresso se pode fazer como se nada tivesse acontecido. Que o ex-assessor, agora jornalista, vai conseguir fazer o seu trabalho de forma imparcial.
Eu acho isso difícil. Acho humanamente difícil que uma pessoa que trabalhou durante anos com outra, estabelecendo uma relação de amizade e proximidade, seja depois capaz de tratar noticiosamente essa pessoa de forma imparcial.
Acho inevitável que, mais tarde ou mais cedo, o jornalista se veja perante um dilema deste tipo. Parece-me inevitável que o jornalista tenha que passar o resto da sua carreira a combater a tentação para relativizar, vitimizar ou desculpar.
Para mim, a transferência para a assessoria de imprensa é uma mudança de carreira. Perfeitamente legítima. Mas no caso de um jornalista deve ser devidamente ponderada. Porque me parece um caminho sem retorno.