Um governo, duas políticas externas
A estreia de Luís Amado como ministro dos Negócios Estrangeiros, no debate parlamentar de ontem, representou um virar de página na política externa do Governo socialista. Com Freitas do Amaral ao leme da nossa diplomacia, todo o discurso implícito e algum explícito visava reforçar o poder da União Europeia face aos Estados Unidos, em aproximação das teses da esquerda tradicional. Pelo contrário, Luís Amado vem agora destacar a componente atlantista da diplomacia portuguesa, demarcando-se claramente dos partidos situados à esquerda do PS. "Existe algum anti-americanismo primário nas análises que alguns fazem a este conflito [no Líbano], disse o ministro, dirigindo-se às bancadas do PCP e do Bloco de Esquerda. Mas estas palavras poderiam também ter como alvo o próprio Freitas do Amaral.
Para Luís Amado, qualquer iniciativa da União Europeia no Médio Oriente só deve ocorrer "em conjunto com outro actor, que são os Estados Unidos". Algo que Freitas nunca diria. Como também não afirmaria isto que o seu sucessor ontem enunciou: "Não se pode pedir aos Estados Unidos que fiquem fracos. Pede-se é aos europeus que fiquem fortes."
Enfim, há uma voz sensata na condução da politica externa portuguesa. Só custa a crer como José Sócrates apadrinhou dois protagonistas com visões tão divergentes no Palácio das Necessidades...