Capitalismo selvagem de fachada socialista (2)
Nestas duas páginas, nem uma palavra sobre o trabalho escravo existente em larga escala na China. Silêncio total sobre toda a série de brutais atentados aos direitos humanos ali cometidos. Nem o mais leve sussurro sobre a proliferação de condenações à morte, que transformam este país no recordista mundial de homicídios cometidos por via legal (pelo menos 3400 pessoas foram executadas em 2004 e seis mil condenadas à morte, segundo a Amnistia Internacional). Absoluta omissão sobre a interdição do livre associativismo sindical e do direito à greve ("A livre expressão e associação dos trabalhadores é drasticamente restringida na China”, conclui o relatório de 2005 da AI sobre direitos humanos).
Pelo contrário, só elogios. Com pérolas deste género, ao melhor estilo do Ministério da Propaganda do 1984, de Orwell: “A China é campeã mundial de inclusão no mercado consumidor, está vivendo uma explosão de expressões artísticas e culturais, os salários têm aumento anual médio de até 15%.” E até as receitas dos jogos de fortuna e azar dos casinos de Macau merecem destaque, uma vez que graças a elas o território tem registado “um processo de desenvolvimento sem precedentes”! Palavras capazes de fazer o próprio Marx revolver-se na tumba...
No editorial desta edição, lemos uma furiosa investida de José Casanova contra o “vale tudo que manda às urtigas os princípios democráticos e não hesita em golpear as liberdades, direitos e garantias dos trabalhadores e cidadãos”. Mas não pensem que o director do Avante! escreve sobre o império vermelho com sede em Pequim: aquelas linhas visam este rectângulo de opressão chamado Portugal. Nada mais natural: para o PCP, a exploração do homem pelo homem foi abolida na China "socialista".