JMF e a crítica
O post de João Morgado Fernandes aqui é um exemplo perfeito de como não abordar a polémica em torno da crítica que temos.
João Morgado minoriza a questão e diz que «tudo se resume ao problema do acesso aos media». Que, coitadinhos, aqueles que denunciam só o fazem porque não conseguem ser críticos encartados. Que têm ao seu dispor, «fora dos media tradicionais, possibilidades imensas (aqui ri-me bastante ao lê-lo) para essa mesma divulgação». Em suma, que anseiam por protagonismo.
Depois, em lugar de afirmar dá - de forma muito pouco intelectualmente corajosa - alfinetadas em jeito de perguntas: «Essa crítica não terá telhados de vidro igualmente interessantes? Não haverá amiguismos desse lado? Não haverá capelinhas universitárias? Dependências mesmo? Interesses económicos até?».
Boas perguntas, ó João Morgado. Haverá? E se houver, o que é que isso interessa? Em que medida é que a bosta no quintal do vizinho desculpa o estrume no meu quintal?
«Há ainda uma questão de fundo, de inteligência, que me espanta fundamentalmente nesta polémica. Hoje, os mecanismos de difusão das obras culturais estão incrivelmente democratizados», escreve para depois concluir: «Mas acharão eles que os outros são parvos»?
Quem são «eles», quem são os «outros»? E que dislate é esse da democratização dos mecanismos de difusão, numa altura em que a construção do consenso nunca foi tão óbvia, a menorização da crítica face à divulgação pura e dura tão imposta e os meios de comunicação tão concentrados num grupo reduzido de grupos económicos?
Tratar «esta pequena polémica» assim, como ele lhe chama menorizando uma questão que só é pequena porque convenientemente ignorada pelos tais «mecanismos democratizados» é tapar o Sol com uma peneira. Uma peneira de um único buraco. Grande, e escuro, e inútil.