Visita à Casa da Nora
Dizem-me que é um dos restaurantes preferidos de Mário Soares. Se for assim, confirma-se: o ex-Presidente da República é um homem de inequívoco bom gosto. Fica nas Cortes, distrito de Leiria, onde a família Soares tem uma casa-museu, com o nome do falecido patriarca João, pai de Mário. É um antigo lagar de azeite, remodelado, à beira da estrada, com uma ampla esplanada em cima de um pequeno rio. Salgueiros-chorões, uma azenha, um pomar anexo, a sombra fresca das árvores pairando sobre todo o conjunto. Está-se bem na Casa da Nora.
Almocei lá há dias com o Francisco e o Rodrigo. Como aperitivo, veio para a mesa a melhor morcela de arroz que comi até hoje. Seguiu-se uma inesquecível sopa de amêijoas, capaz de figurar em qualquer antologia gastronómica. A ementa tem habitualmente ensopado de robalo, polvo à lagareiro e galo de cabidela; desta vez fiquei-me por um honesto cabrito assado no forno, igualmente digno de elogio. E a refeição terminou da melhor maneira, com um pudim de café a merecer classificação de cinco estrelas. Apetecia prolongar a tarde à mesa, mas desta vez não foi possível. Hei-de voltar com mais vagar à Casa da Nora, que em tempos pertenceu ao poeta Afonso Lopes Vieira. A poesia perdura por lá, hoje transfigurada em ode culinária.