Timor: aplauso ao Governo
1. Levantam-se já umas vozes na blogosfera apelando à suspensão dos laços de cooperação entre Portugal e Timor-Leste. Vozes de esquerda, sobretudo – o que me parece revelador de uma compreensível má-consciência histórica. Foi a esquerda radical que em 1975 entregou os timorenses nos braços do invasor indonésio, nada fazendo nos anos imediatos para minorar o drama de um povo que se considera nosso irmão.
2. Agiu bem o Governo em ignorar estas vozes, remetendo para Timor-Leste mais de uma centena de efectivos da GNR. Um envio que aliás já tinha sido pedido, poucos dias antes de rebentar a actual crise, em entrevistas do primeiro-ministro Mari Alkatiri (ao Diário de Notícias) e do ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta (ao Público).
3. Estive em Timor há dois anos e pude verificar como a presença da GNR era muito bem acolhida pela generalidade dos timorenses. Dadas as responsabilidades históricas de Portugal no jovem país, esta cooperação é moralmente obrigatória e politicamente recomendável. Criticá-la em nome da necessidade de conter despesas ou pelo facto de Díli se encontrar a 15 mil quilómetros de Lisboa é pura miopia política. A defesa dos interesses estratégicos de Portugal não se esgota no perímetro da Europa comunitária: pelo contrário, estende-se a todos os países que partilham os nossos mais profundos valores culturais, expressos na língua portuguesa.
4. A defesa destes interesses estratégicos implica a urgente criação de um contingente militar no âmbito da CPLP, capaz de acorrer a situações de emergência sempre que para tal for solicitado por um dos países membros, no estrito quadro da legalidade internacional.
5. País entalado entre duas potências regionais (Indonésia e Austrália), Timor-Leste adoptou a língua portuguesa como idioma oficial e o Direito de raiz portuguesa como matriz jurídica. A ligação histórica a Portugal (e, por extensão, ao conjunto dos países que integram a CPLP) é um elemento estruturante da identidade nacional timorense. Temos a obrigação histórica – que devemos encarar como um imperativo político – de não virar novamente costas a um povo que esquecemos demasiadas vezes no passado. E de acentuar a cooperação com Timor em diversas áreas – a começar na educação e formação de quadros, onde o balanço destes últimos quatro anos é largamente positivo. José Sócrates, felizmente, não ouviu o apelo daqueles que o incentivam a governar com vistas curtas no domínio das relações externas, tomando a decisão mais correcta. Os timorenses agradecem. E as centenas de portugueses que lá residem – apostando em Timor como terra de futuro – também.