sábado, abril 22, 2006

O regime político


O episódio do absentismo parlamentar, que teve direito a suplemento em votação patética, revela o enorme mal-estar da República. Esta atitude dos deputados parece ser sintoma de que não se levam a sério. E têm razão para isso. A maior parte da legislação que o País adopta vem de Bruxelas. Basta fazer uma visita ao Parlamento Europeu para compreender onde está o verdadeiro poder legislativo. Não admira que a nossa assembleia tenha aquele ambiente tépido, de modorra provinciana e absentismo larvar.
No entanto, e apesar do poder que possui, o Parlamento Europeu é escolhido através de eleições com enorme abstenção, que os media apenas respeitam no caso de se discutirem assuntos da paróquia. Os partidos enviam deputados de valor, mas em cada lista há sempre um ambicioso que vai “descansar” para Bruxelas ou um desbocado de quem a direcção se quer desembaraçar. Os cabeça de lista são segundas linhas, pois o trabalho no PE torna-se minucioso e aborrecido, exigindo habilidade, ao envolver diferentes partidos, delegações nacionais, ideologias, personalidades e culturas.
Os partidos não estão em crise na perspectiva do eleitorado os substituir por populistas, extremistas ou demagogos. Mas a crise dos partidos tem a ver com sua crescente dependência dos interesses de grupos (este problema é sobretudo grave nos Estados Unidos), o que dá enorme poder às oligarquias.
A fragilidade do regime democrático contemporâneo é que, de facto, a política tende para a mediocridade. Provavelmente, este é um problema mais geral, que começa na chamada “comunicação social” e acaba na cultura. Os media tradicionais estão cada vez mais previsíveis e descerebrados, reflectindo uma sociedade alienada e superficial. A informação está disponível, o difícil é ir além do verniz diáfano que paira sobre as coisas.