A invisibilidade II (crónica)
A existência de um original nunca é fácil. No entanto, há artistas esquecidos por não serem suficientemente ousados (uma espécie do dilema de preso por ter cão ou não ter). O escritor Miklós Bánffy (1873-1950) foi esquecido até na língua húngara. Os seus livros só se encontram em alfarrabistas e mesmo ali com dificuldade. Bánffy era conde e foi político, caído em desgraça nos anos 30 por não ser suficientemente nacionalista. Nessa década escreveu três espantosos romances, a trilogia da Transilvânia (há outro autor mais famoso com uma trilogia transilvana). Estes livros foram esquecidos, veio a guerra, depois o comunismo. Bánffy tinha as suas propriedades na Roménia e perdeu tudo. Morreu desiludido e pobre. Nos anos 70, foi mais ou menos recuperado na Hungria, mas era olhado com desconfiança e considerado demasiado conservador para o seu tempo, sobretudo em termos literários.
Recentemente, foi publicado em inglês e francês e comparado a Lampedusa, que é posterior. A trilogia é também equiparada ao belíssimo A Marcha de Radeztsky, de Joseph Roth, livro que teve a sorte de ser escrito em alemão.
Por que razão Bánffy foi esquecido? Não sei responder.
E por que razão as eleições húngaras de amanhã não são notícia, se ilustram tão bem um dos processos mais interessantes da Europa de hoje, a convergência de todos os partidos políticos para um vasto centro onde tudo se decide?
Etiquetas: Crónicas