sexta-feira, abril 07, 2006

Até à náusea


Nunca percebi muito bem o prestígio de que goza David Cronenberg em certos meios cinéfilos. E não consigo entender de todo as cinco estrelas com que certos críticos portugueses brindaram o seu último filme estreado em Portugal. Uma História de Violência é daquelas raras películas que vêem o essencial do seu conteúdo fixado no próprio título: estamos perante isso mesmo. Uma história de violência. Com abundantes doses de sangue. Até à náusea. Cronenberg, na linha de um Peckinpah, parece ter uma sádica sede de sangue na mesma proporção em que cineastas hoje clássicos, como Nicholas Ray ou Vincente Minnelli, eram cultores requintados do vermelho technicolor.
Atenção: não incluo Uma História de Violência entre as piores obras do canadiano, como Crash (não confundir com Colisão), um dos filmes mais execráveis de sempre. Mas o tom quase hitchcockiano da primeira metade, que nos envolve nas teias de um pequeno burgo de província onde nem sempre o que parece é, acaba por desvirtuar-se na derrapagem acelerada para fita de série B em que se transforma a segunda parte, povoada de personagens de papelão. Nota final: William Hurt tem aqui o seu pior papel de sempre. Consegue até surpreender por ser tão mau.