Indignação pura

De vez em quando, ao domingo de manhã, tem que ser. Pego no monte de jornais atrasados que acumulei ao longo de semanas e passo-lhes uma última vista de olhos antes de os meter no lixo. Chego a perder duas horas nisto, mas vale a pena. Invariavelmente ressaltam dessas páginas de notícias mortas previsões que os factos pouco depois desmentiram, cachas que afinal não se confirmaram, ou como foi hoje o caso, sinais que só a dias de distância percebemos melhor.
Esta manhã fiquei a meditar na insistência com que as notícias sobre as indemnizações dos administradores do BCP saíram nos jornais. O assunto dominou toda a Imprensa dias a fio. Sabemos que nos tempos que correm já não é só a publicidade que manipula os sentimentos do seu público. Por isso, interroguei-me: terá sido a inveja que se explorou aqui? Diz-se que a inveja é um sentimento tão português... Mas depressa concluí que não. A inveja é um sentimento vil que ataca sobretudo quando não se tem com que ocupar o espírito. A inveja precisa de uma certa ociosidade para levedar e os portugueses, entretidos como andam a contar os seus parcos rendimentos não podem reagir a notícias deste teor com a disponibilidade mental dos invejosos.
As formidáveis indemnizações daquele dream team não saíam dos jornais por pura indignação, um sentimento que ao contrário da inveja é nobre e bem fundamentado.