Obama
Já sabíamos todos que um dos próximos presidentes dos EUA seria negro, só não sabemos se será já o próximo. Também sabemos que os sectores mais conservadores já só pedem para não ser um hispânico, pelo menos no seu tempo de vida (bem feita para os wasp, que deixaram de se reproduzir, pelo menos a uma velocidade competitiva). Não julgo que o ser negro - ou ser mulher - seja um assunto interessante nestas eleições. Já o fenómeno Obama promete ser muito interessante. O seu discurso na vitória do Iowa é brilhante do ponto de vista formal: na duração, no ritmo, na mistura Luther King com W. Whitman, remetendo para a memória das intervenções mais marcantes de L. King (ir a Washington cobrar a factura), e de Kennedy ("Let us begin"). A "esperança" como refrão, por contraponto à "fé" (que é cega); os dois exemplos concretos de duas pessoas sem assistência médica; o despertar da paixão da América por si própria, num final quase apoteótico de apelo à unidade. Absolutamente profissional, em suma.
O problema de Obama, se ganhar as eleições, pode ser o excesso de expectativas. O nosso problema é que ele quer que os "rapazes" abandonem o Iraque e voltem para casa e parece mais interessado numa América mais fechada, centrada nos seus problemas - a redução da dependência do petróleo, por exemplo - e menos interventiva no plano internacional. Não são muito boas notícias, parece-me.