sexta-feira, janeiro 18, 2008

O império



As eleições americanas entram agora numa fase decisiva, mas os dados essenciais estão já lançados. Existe a fortíssima possibilidade de que, no lado democrático, se defina a dupla Clinton-Obama. Hillary tem todas as hipóteses de vencer a nomeação e escolher Obama para ser o candidato a vice-presidente. Acho pouco provável que esta dupla perca as eleições.
Do lado republicano, o único com possibilidades seria John McCain, que teria de escolher um vice entre não candidatos. As restantes combinações podem originar desastres eleitorais e McCain tem o problema da idade (71 anos). Os republicanos terão de enfrentar as consequências da crise económica que se aproxima, a qual afectará os mais pobres, com proporção maior de eleitores democratas.
Apesar de tudo, as consequências para a Europa serão mínimas. Com Hillary-Obama, Washington não modificará as suas relações com os países europeus, face às actuais, que não são boas. Os EUA precisam dos europeus no Afeganistão, mas estes estão relutantes em enviar tropas para um cenário de guerra tão perigoso. A segunda guerra da NATO (a primeira a sério) pode bem ser a sua última. A chanceler alemã perderia as eleições se comprometesse mais soldados e os franceses precisam de tempo. Os restantes países podem até ter a vontade, mas não possuem a capacidade necessária.
Na próxima presidência, já o problema do Kosovo estará resolvido, pelo que haverá menos um problema a dividir a Europa, com metade desta ao lado de Washington e a outra metade contra.
EUA e Europa são dois blocos com interesses praticamente comuns, mas os Estados Unidos não deixarão de se comportar como a hiperpotência, exigindo total apoio dos seus aliados.
A actual situação tem semelhanças com o equilíbrio de poderes no final do século XIX (cinco europeus, mais os EUA e o Japão, com o império britânico a comportar-se como hiperpotência militar e económica). Mas também há diferenças: os desequilíbrios são maiores do que nessa época, os blocos menos definidos, as alianças parecem mais estáveis e no século XIX não existia nenhum protagonista tão desesperado (ou dividido) como se encontra o bloco muçulmano (cuja fragmentação é notória).
Isto talvez implique um mundo mais imprevisível, pelo que convém na Casa Branca um presidente com experiência e sensatez. Apesar de tudo, que não haja ilusões sobre a sua vocação imperial.