quarta-feira, janeiro 23, 2008

Banho de realidade


Há um ano, o subsistema de saúde de que usufruía acabou, em nome de uma moral que aconselha a igualdade de tratamento para todos os utentes do SNS (a propósito, para quando a aplicação dos mesmos princípios aos nossos estimados deputados e juízes?).
Em nome dessa moral acatei sem tugir e fui adiando como pude o dia em que finalmente tivesse o privilégio de sentir no pêlo as condições em que a generalidade das pessoas são assistidas nos Centros de Saúde.
Descobri então que não tenho nem terei médico de família atribuído nos próximos tempos (Meses? Anos? Não me souberam dizer). Se precisar de consulta tenho que me inscrever com um mês de antecedência. Nessa altura serei atendida por um médico qualquer. Se precisar de ser seguida, andarei a saltitar de médico para médico e só por sorte serei vista pelo mesmo em duas consultas seguidas. Quanto a exames, fiquei também a saber que há muitos que não são comparticipados e outros são realizados em escassos centros de meios auxiliares de diagnóstico, o que implica um longo tempo de espera.
Fiquei irritada quando me vi confrontada com tudo isto e protestei. A funcionária que me atendeu mirou-me dos pés à cabeça com espanto. Percebi quanto eu lhe parecia desfocada da realidade por revelar tanta indignação. Vociferar num Centro de Saúde contra a falta de médicos é quase tão absurdo como reclamar no Inverno por estar mau tempo.
Ontem, na SICNotícias, Correia de Campos garantiu que no prazo de um ano 150 mil utentes iriam passar a ter médico de família. Lembrei-me logo da história dos 150 mil empregos. Será dos mesmos 150 mil portugueses que o ministro da Saúde está a falar? (Tenho a impressão que este Governo tem um fetiche qualquer com este número: 150 mil. Será sexy?)