Os terroristas são tão humanos como nós
Vi há dias, pela primeira vez, o programa da RTP O Caminho Faz-se Caminhando. E de facto lá iam eles, Mário Soares e Clara Ferreira Alves, caminhando. Chegaram a Córdova, onde lhes deu para falar muito de religião. A Clara nem parecia o mesmo espírito acutilante do Eixo do Mal, em que costuma contestar tudo e todos. Chegou até a pedir desculpa por fazer uma pergunta ligeiramente incómoda a Soares, assumindo-se como "advogada do diabo". Exagero dela. Soares, imperturbável, falava com a imodéstia que sempre o caracterizou - "Sou um homem do iluminismo, do enciclopedismo" - enquanto defendia doses urgentes de tolerância para solucionar os mais graves problemas mundiais. A tolerância só se desfez quando visou o inquilino da Casa Branca, insurgindo-se contra o "flagelo que foi para a América, e para o mundo em geral, o presidente Bush". Já em relação ao extremismo islâmico, mostrou-se mais compreensivo: "Os terroristas são seres humanos como nós."
Por estas e por outras - e não por causa da idade, como alguns disseram - é que só teve 15% na eleição presidencial de 2006. Se fosse hoje, teria ainda menos. Não devido à idade, mas devido às ideias: ao pé dele, Francisco Louçã parece um tranquilo social-democrata. Aposto que Soares ainda há-de admoestá-lo (odeio esta palavra) pela sua crescente moderação.
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