quarta-feira, novembro 28, 2007

Scolari e as carpideiras


Já que puxas o assunto, Francisco

Uma das piores características que noto em muitos portugueses é uma espécie de apologia permanente do insucesso: adoramos os derrotados, os perdedores, os deserdados. Paralelamente, abunda entre nós a inveja pelo mérito alheio. As caixas de comentários deste blogue estão cheias de proclamações raivosas contra Luiz Felipe Scolari em reacção a textos que aqui tenho escrito há mais de um ano. Dir-se-ia que toda esta gente convive mal com o facto de se tratar do treinador com melhor currículo da história do futebol português, a nível internacional. Não é matéria de opinião: é matéria de facto.
Há muito de xenofobia nestas críticas: no Fórum da TSF e na "Opinião Pública" da SIC Notícias não faltaram sequer apelos ao ministro dos Negócios Estrangeiros para "deportar o brasileiro" de território nacional na sequência do Portugal-Sérvia. São opiniões tão irracionais que não merecem mais comentário: mas funcionam como um sintoma. Esclarecedor.
O que pretendiam muitos detractores de Scolari? O seu insucesso - mesmo que isso acarretasse, obviamente por extensão, o insucesso da selecção portuguesa. Isso ficou bem patente, vezes de mais, nos sucessivos atestados de incompetência passados ao técnico por todo o género de treinadores de bancada. Tudo serviu para o denegrir: ou porque não sabia escolher a equipa, ou porque lia mal o jogo, ou porque tinha mau feitio, ou porque "não via os jogos do campeonato português", ou porque ousou confrontar "o senhor Jorge Nuno Pinto da Costa", ou porque convenceu os portugueses a pôr bandeiras às janelas num sinal de perigoso "populismo".
Ouviu-se de tudo. Na TV, em pleno Mundial da Alemanha, não faltaram sequer os pessimistas encartados - com ou sem gel no cabelo - prevendo sempre o pior resultado de jogo para jogo.
Foi assim? Infelizmente para eles, não. Scolari, depois de levar o Brasil à reconquista do Campeonato do Mundo, transformou Portugal numa das equipas mais admiradas e mais temidas à escala planetária. Este é o seu maior feito, superior até aos resultados em campo, ainda assim nada negligenciáveis: vice-campeão da Europa em 2004, quarto lugar no Campeonato do Mundo de 2006 (com o dobro das equipas em torneio, comparado com o mítico Mundial de 1966, em que Portugal ficou em terceiro).
Mais que isso: com Scolari não houve Saltillos, não houve a vergonha do Mundial de 2002 na Coreia do Sul que deixou a imagem de Portugal pelas ruas da amargura. O "sargentão", como lhe chamam, construiu uma equipa, moralizou-a e disciplinou-a. Mais ainda: chamou para os estádios portugueses milhares e milhares de mulheres, anteriormente divorciadas do desporto-rei. Depois dele, o futebol entre nós não voltará a ser um desporto só para homens.
Cometeu erros? Claro - a começar pela absurda exclusão de Vítor Baía da baliza da selecção, nunca explicada. Mas de homens infalíveis está o inferno cheio. E de infalíveis génios domésticos cobertos de "vitórias morais" está cheia a história do nosso futebol.
Cansámo-nos desse futebol que nos dava uma alegria fugaz de vinte em vinte anos. Eu, pelo menos, fartei-me. Estou com Scolari, estou com a selecção. Contra o coro de carpideiras que têm falhado sucessivas profecias, vaticinando desaire após desaire para depois poderem dizer que foram as primeiras a prevê-los. Azar dessas carpideiras: Scolari soma muito mais triunfos que derrotas. Por isso o apoio. Faço questão de não ser ingrato.

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