sexta-feira, novembro 23, 2007

Porque hoje é sexta


“Ruth sabia do caso com Ayala e sofria muito. Eu, por meu lado, odiava-a por ela não me obrigar a escolher entre as duas e por aquela sabedoria discreta que a aconselhava a esperar. Sofrer e esperar: nem uma só vez durante aqueles meses horríveis se mostrou zangada ou hostil, mas também não manifestava qualquer submissão, nem me deixava perceber a sua humilhação. Pelo contrário: eu era o macho com cio, acalorado, que andava à roda de duas mulheres sem saber o que queria. E no rosto sem beleza de Ruth via toda a sua força e sabedoria: os seus movimentos eram mais lentos que nunca. Irradiava dela um aviso sereno: era extremamente forte; como qualquer ser humano, continha em si forças muito grandes e perigosas e por isso tinha que agir com moderação; para não ferir os outros, tinha que se conter e ter paciência: sugerir sem gritar, propor sem impor. Eu odiava-me pelo sofrimento que lhe causava.” – David Grossman in Ver: Amor