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Tenho pena que as crónicas estejam a desaparecer das páginas dos jornais. Habituei-me desde muito novo a ler alguns dos melhores cronistas da imprensa portuguesa – numa época em que a crónica era um género imprescindível. Lia textos do
Pedro Alvim, do
Rodrigues Miguéis, do
Baptista-Bastos, do
Carlos Pinhão, do
Abelaira, do
O’Neill e da grande
Alice Vieira sempre com uma ponta de deslumbramento. Era uma prosa diferente da escrita impessoal das notícias: paginada de modo especial e com um tom coloquial que não se vislumbrava noutros locais dos periódicos – estabelecendo um clima de convivência quase íntima com o leitor. Através dos anos, fui mantendo o meu interesse pela crónica, frequentando diversos autores – do
Miguel Esteves Cardoso ao
Pedro Mexia, passando pelo
Manuel António Pina, pela
Clara Ferreira Alves, pelo
Ferreira Fernandes e pelo
António Lobo Antunes. Vou também praticando o género, sempre que posso: é a disciplina jornalística que mais se aproxima da literatura. Tenho pena de vê-la à beira da extinção, substituída pelo comentário anódino e sensaborão ou pela fatigante “análise” política que muitas vezes não é mais do que um mero piscar de olho a “fontes” de circunstância.
Ao menos no Brasil o género está bem vivo e recomenda-se. Há mesmo quem reclame por lá a paternidade brasileira da crónica, que gerou verdadeiros autores de culto – de
Rubem Braga a
Luís Fernando Veríssimo, de
Carlos Drummond de Andrade a
Arnaldo Jabor, de
Nelson Rodrigues a
Millôr Fernandes, de
Fernando Sabino a
Roberto Pompeu de Toledo. É um prazer ler o português revigorado destas crónicas brasileiras, de ontem e de hoje.
Etiquetas: Jornalismo