quarta-feira, outubro 31, 2007

Elites autofágicas


Antes de começar a ler o Rio das Flores não resisto a recordar um dos parágrafos mais brilhantes e demolidores que já li sobre alguém. É pena serem as nossas elites intelectuais a demolirem-se mutuamente.

"Fora a acusação de fraude (que me incomoda), Miguel Sousa Tavares trata com condescendência o meu putativo pessimismo e lamenta que o meu conhecimento do mundo não vá muito além de Oxford e do Gambrinus (para quem não saiba, um restaurante de Lisboa). Esta estupidez não é inocente, é profiláctica. Serve para me desqualificar, se por acaso eu disser o que penso (e não disser bem) sobre o Rio das Flores, um segundo romance que já saiu ou vai sair daqui a poucos dias. Mesmo vendendo como vende, Miguel Sousa Tavares não consegue suportar que diminuam o que ele julga ser o seu imenso brilho. A mim, não me aflige que ele se apresente como um génio literário. Desde que não ande por aí a espalhar mentiras".

Vasco Pulido Valente, Público 21 Out 2007