O amigo Vasco
Começo por uma declaração de interesses: gosto imenso do Vasco Pulido Valente, leio-o atentamente há anos, compro os livros dele e acho que um dos pontos fracos do nosso País é o de só ter um analista político como ele. A escrever como escreve, a pensar como pensa. É único. Se tivesse vivido no século XIX era do calibre de um Eça. Depois do desaparecimento de Victor da Cunha Rego, VPV ficou sozinho. Nos jornais ingleses há alguns do nível dele, cá só temos um naquele patamar.
Posto isto, vou dizer aqui aquilo que não lhe diria por pudor se lhe ligasse hoje, como há uns poucos anos atrás. Acho que a sua investida na campanha interna do PSD, a favor de Marques Mendes e contra Menezes, se deve a uma boa razão: a amizade com o comandante Azevedo Soares, número dois de Mendes. Mas isso não o deveria deixar cego, perante a inabilidade política e os péssimos resultados que Mendes tem demonstrado. Nem o deveria ter deixado chegar a este ponto, que li hoje num artigo seu no Público: "Antigamente existiam à direita instituições, como a Igreja (e, de certa maneira, a Universidade) e forças sociais como o alto funcionalismo e as 'notabilidades' da província e das profissões liberais, que nunca permitiriam a ascensão de Menezes. Mas na tábua rasa em que a sociedade portuguesa se tornou é bom não contar excessivamente com elas. Marques Mendes pode perder. E Menezes, mesmo com uma cisão do PSD, pode começar uma campanha populista contra Sócrates, que deixaria o regime, já abalado, em estado de coma". Não sei o que VPV queria dizer com "antigamente" (o Antigo Regime?), mas certamente que essas instituições também não permitiriam a ascensão de Mendes. E permitiram.
É espantoso, VPV anda numa espécie de senda contra o homem de Gaia. Sinceramente, acha que vale o esforço? Mas parece que vale. Atente-se ao texto de VPV na semana passada, no mesmo jornal. VPV já nem se preocupa que um presidente de um partido como o PSD, partido que conheceu bem e cujo líder histórico o fez secretário de Estado da Cultura, possa ser "excelente" ou "muito bom", duas classificações que o meu analista político preferido se esqueceu de referir. A tese curiosa de VPV é esta: "Menezes vai perder. Mas, se não perder, o PSD, como o conhecemos, desaparece". Então qual é a alternativa a esse populismo? Chama-se Marques Mendes, um político com provas dadas. "Bom, mau ou medíocre, Marques Mendes deixou de ser uma escolha, é uma necessidade", diz VPV. Uma necessidade? Para o primeiro-primeiro, aliás, essa necessidade é imperiosa.