À direita, toda a mudança será bem-vinda
Este meu texto (desculpem lá, mas engalinho com a palavra post) suscitou comentários do Jorge Ferreira e do Rui Castro. Ainda bem. Vamos lá então pôr a conversa em dia.
1. Caro Jorge, creio que a esquerda não se limitou a esperar durante os anos do cavaquismo. A esquerda viu-se forçada a mudar: há uma esquerda pré-Cavaco e uma esquerda pós-Cavaco. A esquerda pós-Cavaco abandonou em larga medida o dogma da economia estatizada, aprendeu a cultivar a autoridade do Estado e começou a aprender a fazer contas. Tal como haverá necessariamente uma direita pós-Sócrates, que não deve confundir-se com a anterior. Os sinais de decomposição da direita (de toda a direita) estão aí. Às vezes as melhores construções edificam-se sobre escombros.
2. Caro Rui, concordo com o que dizes. Mas vamos lá ver: se Sócrates não enfrenta oposição credível, isto poder-lhe-á também ser remetido a crédito. Ao adoptar alguns emblemas da direita (o "impulso reformista", elogiado pelo próprio Presidente da República) e sobretudo ao importar da direita uma pose de autoridade, que cultiva com inegável sucesso, Sócrates "secou" toda a oposição à direita. Disso não vem grande mal ao mundo: esta direita pós-cavaquista precisava de regenerar-se como de pão para a boca. Diferente é o papel de Sócrates como líder socialista, onde esterilizou quase todo o debate interno. Foram-se os dois Soares, Carrilho, Coelho, Vitorino, Roseta, Cravinho, Medeiros - sei lá quem mais. Sobrevive Manuel Alegre, quase só como flor de retórica na botoeira do "líder", que na recente entrevista à SIC Notícias se serviu das críticas do poeta para simular um quadro de pluralismo democrático nas fileiras socialistas que está longe de corresponder à realidade.
Mas isto é já outra conversa. Era da direita que falávamos. Aí só posso reiterar: toda a mudança será bem-vinda.