sábado, agosto 25, 2007

Descartáveis


Quando era criança havia um cão chamado Esquimó que vivia num dos quintais que se viam das traseiras da minha casa. Era um lindo Samoiedo, de pelo sedoso e branco, que com o passar dos invernos se foi enchendo de reumático. Por fim era penoso vê-lo a coxear para dentro da casota que os donos lhe haviam instalado mesmo virada ao vento norte. E um dia mandaram-no abater. “Já estava velho e doente”, disseram, em tom casual, à minha mãe.
Lembrei-me do Esquimó a propósito de um outro exemplar da mesma raça que vi aqui há dias, atarantado, a ziguezaguear pelo meio da estrada, indiferente aos carros que iam passando. Não precisava falar para se perceber o que lhe tinha acontecido. Tenho a certeza que me foi dado assistir aos primeiros momentos de aflição de um canito quando percebe que foi abandonado. Desorientado, assustado e triste, o que mais comovia na atitude do infeliz era perceber a sua incapacidade para compreender o que lhe tinham feito.
Aquela minha antiga vizinha, felizmente, nunca mais quis ter um cão. Mãe de uma única filha, agora já casada, queixa-se frequentemente do abandono a que ela a votou. Não admira. Agora, que já está velha e doente, tem sorte se não for despachada para um daqueles lares onde os velhos não duram mais de dois meses...