Noites de memória
São frescas as noites de Lisboa. Corre sempre um vento, uma aragem do rio, traz-se um agasalho pelo sim e pelo não, e que ainda me faz sorrir. Como tantos que vieram das terras dos alertas laranja dos tempos modernos, ainda estranho estas noites.
Para muitos, o passeio era na avenida, outros habitavam os bancos escondidos nas copas das árvores em conversas de voz baixa. Na escuridão das casas fugia-se do calor das lâmpadas e das picadas das melgas. Era assim o Verão. O dia quente que não arrefecia à noite as ruas, as casas, e o mês da praia que nunca mais chegava para nos libertar o corpo do calor.
Eu, que não sei de que terra sou, trago na memória ruas escuras das noites da minha aldeia em vozes baixas nas ombreiras das portas, à espera de um vento e do sono, para mais um dia acordado ao toque do sino e dos galos da vizinhaça. Eram tempos de poucas mudanças e muitas certezas. E o vento que não corria e o calor que fazia: "vai com Deus, Maria."
(Fotog: Esplanada Noobai e vistas para planície)