Isso por cá não pega, Sr. Negrão
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Em Portugal, o humor é uma arma, mas daquelas que explodem nas mãos de quem as dispara. Se Woody Allen fosse português e escrevesse "Não só Deus não existe, como tentem lá arranjar um canalizador ao fim de semana", receberia certamente uma série de amáveis mas crispadas respostas do tipo "O senhor pode ser muito culto, mas não conseguiu provar a relação entre as duas afirmações" ou, pior, "É desprezível que, para fundamentar o seu ateísmo, se socorra de uma profissão cujos efectivos são lamentavelmente baixos". Já para não falar do sindicato dos canalizadores que, obviamente, exigiria desculpas públicas.
Vem isto a propósito da satisfação dos intelectuais portugueses com o último cartaz de Fernando Negrão, revelador de "sentido de humor" e de "capacidade de se rir de si mesmo". Dinheiro deitado à rua, diria eu. Ponha lá a fotografia com ar de pessoa séria e uma treta qualquer sobre amar Lisboa e talvez ainda lá vá.