segunda-feira, junho 04, 2007

Tiananmen

Foi há dezoito anos. Decidi, com um amigo, organizar uma exposição de arte povera na Praça da Figueira com a malta do IFICT. Durante a madrugada, horas depois de instalada a tralha, um travesti bêbado destruiu aquilo ao pontapé. Pouco depois, os homens da Câmara acharam e bem que tudo aquilo era lixo e trataram de enfiar a «arte» num camião. Foi, provavelmente, uma das mais efémeras exposições de sempre.
Nos Restauradores, já os chineses me tinham gentilmente impedido de discursar, porventura assustados pela frase que leram no texto da minha comunicação e que proclamava que «eles só queriam Coca-Cola». Suponho que o facto de ter um iconoclasta boné maoista na cabeça não tenha sido interpretado como o gesto irónico que pretendia. Enfim. Pior que isto, só aquela vez em que expus na cave do Fórum Picoas, entre uma reprodução do Mercado da Ribeira com peixe à séria e uns gajos chamados Canibalismo Cósmico, que penduraram uma peça de carne a sangrar para uma bacia. Ao segundo dia, como era de prever, ninguém se arriscava a descer as escadas tal era o odor de decomposição. Mudei de vida. Hoje, pinto umas tretas a óleo e não saem lá de casa, não vá o Diabo tecê-las.

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