terça-feira, junho 05, 2007

Mainstream, high tech and so on

Há hoje uma forma de escrever nos jornais que abastarda a língua portuguesa e dificulta a compreensão dos textos, tornando o acto de comunicar por escrito uma tarefa apenas para iniciados. Refiro-me à invasão descontrolada de vocábulos importados da pátria do Tio Sam, a coberto de um certo jargão “económico” ou “cultural”, que transforma muita prosa numa espécie de crioulo luso-americano, cada vez mais indecifrável para uma camada vastíssima de pessoas.
Com isto afugentam-se os leitores em percentagens crescentes, como se tem visto nos últimos anos. Não perceber isto é não perceber nada de essencial do acto de comunicar – que deve ser claro, conciso e compreensível.
Para se entender melhor a que me refiro, fica um exemplo concreto de um artigo de duas páginas inserido há dias num jornal e assinada por um conhecido jornalista “cultural”. Em certos trechos, que passo a transcrever, aposto que nem ele próprio saberia muito bem o que estava a redigir.
- “Não é o 13 que é um número azarado, o cool é que já não pode ser o que era.” (Frase de abertura)
- “Nem é preciso recuar aos tempos de Frank Sinatra e da sua rat pack.”
- “Tão poucos anos e o cool já se gastou.”
- “A série está agora mais high tech.”
- “Parecem todos guest stars do seu próprio filme.”
- “Provavelmente se captou que era o mais disponível para exorcizar este pacto com o entertainment.”
- “O cinema que explorava novos caminhos era também o cinema mainstream.”

- “Em tempo de promoção de uma sequela não se espera que alguém declare morta a franchise.”
Se ler cansa e confunde, transcrever é ainda mais penoso. Desculpem lá, mas agora vou fazer uma pausa. Comigo o cool já se gastou. Seja lá o que isto queira dizer.