terça-feira, maio 01, 2007

Trajectos


Depende das horas. Pode ser de manhã ou à noite. Raramente de tarde com excepção do fim de semana, mas também conta. Os nossos trajectos, que repetimos quase diariamente com um destino, por obrigação, por gosto ou por necessidade, com menor ou maior alento, atrasadas ou com tempo, felizes ou não, mas que fazemos quase sempre da mesma forma mas sempre de formas tão diferentes. Com antecipação ou por hábito calculamos os imprevistos, com maior ou menos destreza ultrapassamos as dificuldades ou, descuidadas, nem sempre acautelamos os riscos. Azar, dizemos nós. Seja como for ou a que hora for, são também estes percursos que nos fazem sentir vivas, com estes trajectos tornamo-nos úteis, são os caminhos de todos os dias que nos fazem subsistir.
São viagens, pequenas ou grandes, feitas com ansiedade por não chegar ou com angústia por avançar. Culpamos a chuva, o frio, o calor, os outros, o raio da vida, o carro da frente, o semáforo, os apressados, os lentos, o país, quem manda nele, maldizemos a incúria, lamentamos a injustiça, denunciamos a estupidez e desculpamo-nos a nós. Entricheiradas, ninguém nos ouve, não chegamos mais depressa nem ganhamos o céu mas isso já sabemos.
Outras vezes, são trajectos perfumados, tranquilos, faça chuva ou faça sol, que passem, que passem todos desde que eu chegue, desde que cheguemos.
São mil um trajectos, uns amáveis outros não, com hora marcada ou com tempo, quer se goste ou não se goste, estamos por aqui. Melhor ou pior, são os caminhos que percorremos. É a vida, digo eu.
(Fotog: Dublin 2006)