quarta-feira, maio 02, 2007

Não dar o braço a torcer

«O ministro do Trabalho desvaloriza a polémica em torno da campanha «Novas Oportunidades», que tem por objectivo incentivar os portugueses a concluir a escolaridade. Vieira da Silva diz que está satisfeito com os resultados». Ora toda a gente sabe que uma campanha publicitária beneficia habitualmente da polémica, no sentido em que esta lhe dá notoriedade ou, em «marquetinguês», aquilo que se chama o top of mind. Daí os últimos anúncios da Dolce & Gabanna ou aqueles da Benetton que encheram muita página de revista.
Com as Novas Oportunidades, a coisa pia mais fino. A polémica não só acrescentou nada à campanha, como ainda fez com que se perdesse qualquer mensagem concreta que ela eventualmente quisesse veicular. Não houve comentador com juízo que não a tivesse criticado pela sua tacanhez na análise sociológica ou o seu reducionismo a uma sociedade do canudo. O senhor ministro do Trabalho, no entanto, está «satisfeito com os resultados». Não são quantificados esses resultados, como está bom de ver. Mas «há uma sensibilização muito forte e uma vontade muito intensa de os agentes económicos, empresas, associações e também pessoas individuais de se requalificarem». Imagino que tanta intensidade faça surgir lágrimas de agradecimento no canto do olho dos empresários e despedimentos em massa dos empregados precários, em direcção ao guichet da universidade ou do curso de formação mais próximo. Balelas!
A campanha surgiu no pior momento político possível, a sua linguagem foi de um provincianismo oitocentista e as críticas justas e transversais aos diversos quadrantes da sociedade. O ministro não pode estar satisfeito com os resultados porque - objectivamente - não há resultados. Ou, se os há, o senhor Ministro que faça o favor de mostrar os números que estão na origem do seu contentamento. É que, para o resto dos portugueses, a campanha foi muito pouco alegre.