quarta-feira, abril 11, 2007

O que diz Pacheco

José Pacheco Pereira escreveu sábado, no Público, um dos artigos mais injustos que tenho lido desde sempre sobre o jornalismo português. Afirma, em síntese, que os jornalistas se têm demitido da sua função de escrutinar o poder político. A propósito da embrulhada em torno das habilitações académicas do primeiro-ministro.
Pacheco não poupa nas palavras. Diz que existem “compromissos invisíveis” entre a comunicação social e “o poder socialista, o seu Governo e o primeiro-ministro”. Afirma que se estendeu um manto de silêncio sobre o currículo universitário do primeiro-ministro – apenas rompido pelo Público, que lançou o tema, e pelo Expresso, duas semanas mais tarde. Tudo porque Sócrates, garante, tem “mecanismos que chegam às redacções”.
Às vezes parece que Pacheco vive noutro país. Um português que abra qualquer jornal ou veja qualquer noticiário televisivo depara a todo o instante com notícias destacadas sobre o diploma universitário de Sócrates, obtido em condições pouco claras na Universidade Independente. Ao contrário do que diz Pacheco, a grande maioria dos órgãos de informação tem cumprido bem a sua missão. Em questões como o aeroporto da Ota e o recente relatório do Tribunal de Contas sobre gastos astronómicos em gabinetes governamentais, têm-se multiplicado manchetes que incomodam seriamente o Executivo.
No que diz respeito à relação entre Sócrates e a Universidade Independente, Pacheco é particularmente injusto. Porque neste caso só os jornalistas têm incomodado o Governo. O PSD, partido de Pacheco, mantém um silêncio sepulcral sobre o assunto. Na Assembleia da República, como Pacheco não ignora, nem o mais leve sussurro ocorreu até agora. Houvesse oposição a sério à direita do Governo e já toda a balbúrdia em torno da Independente estaria a ser dissecada, na frente partidária e na frente parlamentar.
Pacheco sabe disto. Mas dá-lhe mais jeito atacar os jornalistas do que atacar Marques Mendes. Só é lamentável que pretenda virar tudo do avesso. Quem ele acusa de estar calado, não tem deixado de falar – com profissionalismo, com responsabilidade. Quem ele não acusa, permanece mudo – como se não visse telediários nem lesse jornais. Se o Governo fosse escrutinado pelo Parlamento e pelo PSD como é pela Comunicação Social, teria a vida bem mais difícil do que tem.
P. S. - O artigo está parcialmente reproduzido no blogue de Pacheco, Abrupto. Daí o link que fiz acima.