quinta-feira, março 08, 2007

Um partido incompreensível

Em 1974 e 1975, familiares e amigos diziam-me que eram do CDS porque "não havia nada mais à direita". Apesar da minha juventude, parecia-me uma posição "ideológica" que deixava a desejar... Depois, fui para o Brasil, onde fiquei até 1985, e durante esse período parece que Freitas do Amaral, honra lhe seja feita, e outros como Amaro da Costa, Adriano Moreira ou Lucas Pires (a falta que ele faz, sobretudo neste período), converteram os militantes "centristas" à democracia. E foram leais e úteis com Sá Carneiro e a AD. Durante o cavaquismo, apesar de eu ser então abstencionista, nunca percebi a guerra que O Independente e Paulo Portas fizeram a Cavaco e aos governos que, embora com insuficiências, tornaram Portugal num país mais desenvolvido e liberal. Do tempo de Manuel Monteiro e do PP nem vale a pena falar. Tudo me repugnava, o discurso anti-europeu e anti-político, o populismo desbragado. Depois, a sustentação que deram aos orçamentos guterristas que desgraçaram o país por anos e anos, o queijo limiano, as grandes afirmações de "valores" de direita para depois se acomodarem em cargos dados pelos socialistas no poder, o apoio à candidatura de Jorge Sampaio contra Cavaco dado por "notáveis" do partido. Diziam que fizeram isso tudo para "sobreviver" às tentações hegemónicas do PSD. Mas sobreviver a qualquer custo vale o quê em política? Nos governos de aliança com o PSD, portaram-se lealmente, Portas inclusive. Por isso, com tantas contradições, tenho dificuldade em perceber o que é o CDS, onde tenho amigos e cúmplices políticos, mas onde não me revejo de forma alguma. Parece que agora Portas quer ser o Cameron português e os comentadores acham que nós no PSD nos devemos preocupar com isso. Não vejo bem porquê. Tal como o Luís Naves já escreveu aqui no Corta-Fitas, parece-me mais que Portas percebeu que o governo Sócrates começou a tropeçar valentemente perante o eleitorado, devido sobretudo à falta de resultados das suas políticas, e quer naturalmente aproveitar a onda. Não vejo mal nenhum nisso e talvez ele até seja útil na oposição, até porque a Comunicação Social próxima dos socialistas costuma ajudar Portas e outros dirigentes do CDS (Maria José Nogueira Pinto em Lisboa é um bom exemplo) quando acha que isso vai prejudicar o PSD. Mas alguém tem dúvidas sobre em quem votaria a esmagadora maioria dos portugueses não-socialistas perante a hipotética escolha entre Portas e Marques Mendes para primeiro-ministro?