Bento
Houve uma altura da minha vida em que decidi comprar todos os diários desportivos durante uma semana, na tentativa de ver se conseguia «fazer conversa» sobre futebol. Não consegui. Foi um desiderato vão. Uma inglória tarefa de normalização. Nem sequer tinha capacidade poética para interpretar aqueles títulos pejados de subentendidos, quanto mais perceber as notícias. Tenho uma admiração imensa por quem consegue decorar tanto nome, tanta ida daqui para ali e depois para acolá, em que posição jogava aquele e o golo que marcou em 19etrocaopasso. E depois há os jogadores de cá e os do resto do planeta. Admirável. Incrível como essas pessoas (incluindo muitos dos meus mais estimáveis amigos) demonstram possuir uma memória incomensurável e em permanente actualização. Vem isto a propósito da morte de Bento. Era um grande guarda-redes, um dos melhores que tivemos e até eu me lembro dele. Lembro-me porque - quando eu era pequeno, ainda via e jogava futebol e as caras dos jogadores vinham embrulhadas nos rebuçados - ele me fazia feliz.