quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Conversas Cri-Cri


Isto vai soar como uma afirmação radical e surpreendente, mas as mulheres não são todas iguais. É verdade. Há pelo menos dois grupos: As que gostam de conversas Cri-Cri e as que não as suportam. As conversas Cri-Cri reúnem dois temas interligados de forma umbilical no quotidiano feminino. Ou seja, as crianças e as criadas. É inacreditável o tempo infinito que duas ou mais mulheres podem dedicar aos fenómenos gástricos ou às questões escolares dos seus rebentos e às idiossincracias das suas empregadas domésticas. Demora, pelo menos, o tempo de um jogo de futebol com prolongamento até aos penalties.
Mulheres de um e outro grupo têm severas dificuldades de comunicação e raramente se misturam. Por vezes, uma solteira sem filhos e sem criada do segundo grupo vai parar a um jantar daqueles «com arranjinho» organizado pelo primeiro. O que ela sofre, Santo Deus!, entre tantos esforços para normalizá-la, salvá-la e dotá-la de uma capacidade discursiva adequada sobre o Sagrado Coração de Maria ou o Liceu Francês e as ordens a dar para garantir roupa adequadamente lavada ou passada a ferro.
Teóricos da conspiração e defensores do Gato de Schrödinger (obrigado à ni pelos tremas) diriam que essas conversas só existem para eu as ouvir (ou não ouvir as outras) e que - quando qualquer presença masculina está ausente - as mesmas mulheres falam de assuntos interessantes e relacionados com o «quotidiano das pessoas», como sexo sem homens ou as demissões no DN. Não acredito nisso. Tenho as minhas fontes. E sei que as conversas Cri-Cri não só existem como duram, e duram, e duram.