O meu candidato
"Dos dez candidatos, Camões é o mais moderno", declarou ontem Helder Macedo no programa da RTP conduzido por Maria Elisa sobre os mais populares portugueses de todos os tempos. Concordo em absoluto: o autor d'Os Lusíadas é o meu candidato. Porquê? Pelos motivos que Nuno Brederode Santos enunciou sábado, num brilhante artigo do Diário de Notícias. Uma das melhores apologias de Camões que li desde sempre. Infelizmente, o artigo não está disponível on line. Mas segue aqui um excerto, com a devida vénia:
"Este Camões (que foi o do Errol Flynn e bom seria que viesse a ser do Johnny Depp), tem coisas de Peter Pan, de Sandokan, de Zorro e de Corto Maltese. É um quase herói de banda desenhada, que se aboletou no imaginário colectivo com a ternura que só a grandeza aguenta.
Nenhum poeta é visto assim. De Antero, afastam-nos a veneração e a tragédia. De Bocage, ficou só o boémio e o pachola. António Nobre merece-nos a tolerância enfadada que dedicamos aos que sofrem na solidão das mansardas. Pessoa é um Sr. Fernando , que veste pobre e cinzento e toma a bica sempre na mesma mesa à mesma hora. Só Camões pode deixar o estro em casa, apanhar o carro eléctrico e juntar-se a nós na Ginginha, donde iremos juntos ver a bola. Ele não paira lá no alto do seu génio, ele chega lá tão alto quando quer. E entretanto é o vizinho, o camarada, o amigo. Aquele a quem nos amarra uma jura de sangue entre meninos.
Votar neste Camões é também votar no povo que somos. E afinal quantos povos poderão tomar por padroeiro um seu poeta?"
"Este Camões (que foi o do Errol Flynn e bom seria que viesse a ser do Johnny Depp), tem coisas de Peter Pan, de Sandokan, de Zorro e de Corto Maltese. É um quase herói de banda desenhada, que se aboletou no imaginário colectivo com a ternura que só a grandeza aguenta.
Nenhum poeta é visto assim. De Antero, afastam-nos a veneração e a tragédia. De Bocage, ficou só o boémio e o pachola. António Nobre merece-nos a tolerância enfadada que dedicamos aos que sofrem na solidão das mansardas. Pessoa é um Sr. Fernando , que veste pobre e cinzento e toma a bica sempre na mesma mesa à mesma hora. Só Camões pode deixar o estro em casa, apanhar o carro eléctrico e juntar-se a nós na Ginginha, donde iremos juntos ver a bola. Ele não paira lá no alto do seu génio, ele chega lá tão alto quando quer. E entretanto é o vizinho, o camarada, o amigo. Aquele a quem nos amarra uma jura de sangue entre meninos.
Votar neste Camões é também votar no povo que somos. E afinal quantos povos poderão tomar por padroeiro um seu poeta?"