O "não" de Mendes e os seus riscos
O PSD continua animadíssimo, enquanto faz o seu tirocínio de alguns anos de oposição. Marques Mendes, de volta do Brasil, após um período intenso de contactos (como se pôde ler no Expresso ou no Público), defendeu um investimento sustentado em barragens. Mas depois de ler isto fiquei com a sensação de que se estaria a referir a barragens para impedir o caudal de água que pode entrar a qualquer momento na São Caetano à Lapa...
Barragens à parte, Marques Mendes anunciou hoje a sua posição em relação ao referendo de 11 de Fevereiro: "vou votar 'não' neste referendo, tal como votei no referendo anterior. Não vejo razões para mudar de opinião e considero que a actual lei é equilibrada".
Aí está a resposta de Mendes à declaração de ontem do Presidente Cavaco Silva, que pediu um envolvimento da comunicação social no esclarecimento do que está em causa e pediu, sobretudo, mais trabalho aos partidos políticos e associações envolvidas na campanha. Atente-se às duas "observações" que o Presidente anotou: "em primeiro lugar, é imprescindível que o debate sobre uma questão deste alcance decorra com a maior serenidade e elevação. Nesse sentido, apelo a que a campanha que se vai realizar em torno deste referendo constitua uma oportunidade para que se realize um debate sério, informativo e esclarecedor para todos aqueles que irão ser chamados a decidir uma matéria tão sensível como esta. Em segundo lugar, é essencial que as diversas forças políticas bem como os movimentos da sociedade civil, disponham de tempo e condições para se organizarem e mobilizarem de modo a poderem manifestar e divulgar as suas ideias e convicções. Importa, no entanto, que o debate se não prolongue para além de um prazo razoável".
A verdade é esta. Mendes disse que vota "não", mas será que está disposto a envolver-se na campanha, a pugnar pelo esclarecimento dos votantes, como pediu Cavaco Silva? Duvido. O PSD irá ter liberdade de voto, muitos dos seus mais destacados dirigentes e ex-dirigentes estarão do lado do "sim" - como é o caso de Paula Teixeira da Cruz, Miguel Relvas, Ana Manso ou de Vasco Rato, para dar alguns exemplos emblemáticos -, portanto irá estar partido ao meio. Mas Mendes, se realmente pensa aquilo que diz, pode envolver-se como cidadão, tal como fará José Ribeiro e Castro. Ao fazê-lo estará a empenhar-se por aquilo em que diz acreditar, mas também estará a arriscar-se a ter a sua primeira derrota. Depois de umas autárquicas e umas presidenciais que lhe correram bem. Mas a vida, como a política, é feita de riscos. E há riscos que valem a pena. Sobretudo se quiser correr esses riscos em nome de convicções verdadeiras e não meramente ao sabor das tácticas.