sexta-feira, outubro 06, 2006

Uma república sem futuro

O primeiro presidente da República de que me lembro foi Américo Tomás. Os que o antecederam, em ditadura, foram igualmente maus ou muito maus. Indo mais atrás, os da primeira república foram tão maus que fizeram com que o povo desejasse um ditador. Nem vale a pena falar dos do período revolucionário pós-25 de Abril, mas os já eleitos pelo voto popular foram todos maus ou muito maus, apesar de, no primeiro mandato (apenas por motivos de interesse político pessoal, como depois se percebeu), Mário Soares ter sido um pouco melhor. Cavaco, fora ter patrocinado o pacto da justiça, até agora não fez nada que correspondesse às já fracas expectativas que tinha quando votei nele, para evitar um mal maior. Fez hoje mais um discurso, mas creio que será tão inconsequente quanto foram os dos seus antecessores. Rapidamente iremos perceber que ele ficará na história pelo que fez como primeiro-ministro e não por ter sido presidente da república.
A quase centenária república deu a Portugal um dos piores períodos da sua história e certamente teríamos hoje uma democracia muito mais interessante e um desenvolvimento muito maior se não fossem todas as confusões revolucionárias e os ressentimentos políticos e sociais por ela provocados, numa terrível sucessão de fases: caos e perseguições de 1910-1926, 48 anos de ditadura e atraso, revolução que destruiu a economia (embora com a grande virtude de ter reposto a democracia).
Com tudo isto, a pergunta é se a volta da monarquia é possível? Eu acho que sim, mas terá que passar esta geração de pessoas preconceituosas e cegamente igualitaristas, este enorme ressentimento social que a república criou na nossa sociedade, esta visão "progressista" da história, que considera que a república é uma etapa "superior" em relação à monarquia. Até lá, continuaremos a tentar perceber as raízes da nossa instabilidade política, os índices económicos na "cauda da Europa", a invejar Espanha e a achar que os países europeus mais desenvolvidos mantêm regimes monárquicos só por apego à tradição.