Gaiola aberta
Há semanas instalei uma gaiola na varanda, deixando-a aberta. Lá dentro meti um recipiente com sementes de milho e alpista. Um bando de pardais não tardou a rondá-la, sem arriscar entrar. Ontem à tarde, porém, deparei com uma fêmea (talvez tendo filhotes para alimentar) banqueteando-se enfim com o prato de sementes, o que motivou um monumental coro de inveja da restante pardalada. À noite, renovei as provisões. E esta manhã lá estava de novo a fêmea, agora já devidamente acompanhada, tratando de encher o papo. Por momentos, senti a tentação de fechar a porta da gaiola. Mas não o fiz: prefiro que estes pardais me visitem diariamente, como se fossem meus, enquanto voam sempre que lhes der na gana.
E entretanto, ao vê-los entrar assim voluntariamente numa gaiola que poderia ser prisão, fico a pensar: afinal, numa situação limite, o que é mais importante - dispor de pão com grades ou gozar a liberdade com fome? Vou continuar a espreitar os pardais, a ver se chego a alguma conclusão.