Não adianta fazer como a avestruz
Pedro Rolo Duarte pôs o dedo na ferida, nesta crónica que assinou no Diário de Notícias: foi preciso consultar a blogosfera para se perceber devidamente que o “jornalista sueco” de quem a imprensa “de referência” noticiou a morte trágica com uma frieza equivalente à de um médico legista era afinal Martin Adler, um repórter de rara qualidade que se destacou por excelentes trabalhos publicados em Portugal. A história dava pano para mangas, mas passou ao lado das redacções. O João Villalobos já aqui abordou o tema, em termos que subscrevo inteiramente. Quero apenas reforçar a ideia: este é um caso emblemático de tratamento deficiente da informação nos circuitos clássicos, compensado pelo dinamismo de blogues que não se conformam com a linguagem asséptica dos jornais. Um caso que deve servir de alerta máximo aos responsáveis editoriais: se não houver histórias com gente dentro, se não houver corrente sanguínea nas notícias que se escrevem, se não houver mais reportagem e menos relatórios, se não houver mais sensibilidade e menos “expediente geral” a despachar por desfastio, a imprensa perde a pouca vitalidade que lhe resta. Perde, em suma, a razão de existir. E não adianta fazer como a avestruz: o problema é demasiado evidente. Ninguém pode fingir que não existe. Se o ignoramos, pagaremos em breve um elevadíssimo preço social por ele.