Líbano: a impotência europeia
Javier Solana, o responsável pelas relações externas da União Europeia, é afinal o rosto da impotência de Bruxelas na actual escalada de guerra no Médio Oriente. Cada uma das suas intervenções públicas espelha as profundas contradições em que mergulhou a velha Europa, incapaz de um protagonismo efectivo à escala global.
Segundo Solana, o envio de um contingente militar da UE para o sul do Líbano "não é fácil de concretizar". Claro que não: na Europa que se diz unida, cada um puxa para o seu lado.
Passo a fazer o resumo possível das principais posições em jogo:
Reino Unido - Apoia a constituição de uma força militar da UE que garanta um cessar-fogo no Líbano. Mas o primeiro-ministro Tony Blair já avisou: essa força não incluirá britânicos. Os soldados de Sua Majestade andam com excesso de missões em palcos de risco, como o Iraque e o Afeganistão, sem esquecer os Balcãs. Uma nova expedição, tendo agora o Líbano por destino, está fora de causa para Londres.
França - O ministro dos Negócios Estrangeiros, Philippe Douste-Blazy, sublinhou que a hipótese de envio de novas tropas europeias para o Médio Oriente é "prematura". Há neste momento soldados franceses em Beirute, no âmbito da Unifil, missão de paz das Nações Unidas. Paris, ex-potência administrante do Líbano, não pretende envolver-se mais na região. Tem motivos para isso: um ataque suicida do Hezbollah a um quartel de Beirute, em 1983, matou 58 paraquedistas franceses - um facto que perdura na memória colectiva gaulesa.
Alemanha - As autoridades de Berlim admitem mandar tropas para o Líbano. Mas só em teoria. Porque esta disponibilidade esbarra com uma impossibilidade prática: os alemães só avançarão se receberem luz verde simultânea do Governo de Israel e das milícias do Hezbollah, como revelou o ministro germânico da Defesa, Franz Josef Jung. Ninguém acredita que isto possa acontecer.
Um alto responsável da UE, não identificado, ontem citado pelo New York Times resumia assim a situação: "Todos os políticos [europeus] aplaudem o envio de tropas, mas nenhum diz que soldados afinal poderão ser enviados [para o Líbano]". No fundo, "todos se oferecem como voluntários para tratarem da logística, em Chipre".
Esta ironia amarga demonstra bem o que é a Europa dos nossos dias...