Cavaco: cinco anos
Vários leitores questionaram a motivação da minha aposta - categórica, como todas as apostas - de que Cavaco Silva não permanecerá mais de cinco anos em Belém.
É um mero palpite. Mas que se sustenta nestas premissas:
1. Embora a Constituição permita um segundo mandato consecutivo do Presidente da República, nada obriga a que isso aconteça.
2. Genericamente, os segundos mandatos presidenciais têm sido mais negativos do que os primeiros. Foi pelo menos o que aconteceu com Ramalho Eanes e Mário Soares.
3. Um presidente que tenha como horizonte temporal os cinco anos actua de forma muito menos condicionada, pois não está a pensar na reeleição. Cavaco tem este perfil.
4. Um quinquénio é tempo mais do que suficiente para deixar marca. Sobretudo nos tempos que correm, em que os acontecimentos políticos se processam a um ritmo cada vez mais acelerado.
5. Aníbal Cavaco Silva já foi protagonista de uma década decisiva na política portuguesa. Não necessita de outra década para deixar a sua impressão digital na História do actual regime.
6. O actual chefe do Estado fez suficientes proclamações em defesa da renovação dos titulares de cargos políticos para não podermos deixar de o levar a sério. Seria incompreensível que proclamasse uma coisa e praticasse outra bem diferente, tratando-se de uma personalidade que gosta de honrar a palavra dada.
7. Cavaco sublinhou na campanha que não foi o gosto pelas "honrarias" inerentes ao cargo que o motivou a candidatar-se. A sua própria personalidade não deixa grandes dúvidas nesta matéria.
8. Last but not the least: se conquistassse um segundo mandato, o Presidente deixaria Belém prestes a completar 77 anos. Parece uma fase algo tardia para recuperar o gosto pelo convívio familiar, que o desempenho das funções presidenciais necessariamente prejudica. Os netos, de que tanto gosta, nessa altura já serão bem crescidos...