O País a sério (crónica)
O País anda sério. Os assuntos de Estado parecem ter peso e o que resulta na espuma das notícias é invariavelmente macambúzio. Somos os grandes pessimistas da Europa, alheios à retoma, como se pairasse sobre nós a ameaça da bomba iraniana. E, no entanto, já chegou a Primavera, embora a luminosidade se esbata numa espécie de pele grossa que resulta da perspectiva do colapso da segurança social, que por sua vez implica a minha reforma só a partir dos 67 anos.
Mas corações ao alto, há sempre razões para sorrir, digo eu, por causa da Primavera.
É quase certo que os assuntos aborrecidos contêm a sua dose de interesse. Um exemplo:
Veja-se a opinião do Albano Matos, que já foi membro deste blogue e que, quase todos os dias, tentamos convencer a regressar:
“O que achas da Constituição Europeia?” Perguntei, para o provocar a uma resposta.
E, sobre o importante Tratado, disse o Albano: “O final é previsível e tem muito enredo e poucas personagens, ao contrário da lista telefónica, que tem muitas personagens e pouco enredo”.
Enfim, estava eu sem assunto para uma crónica, sem personagens nem enredo, e ocorreu-me esta sentença.
É como o País mediático, cheio de personagens previsíveis, o enredo sempre igual em cada episódio de folhetim, numa monotonia de lista telefónica.