sexta-feira, abril 28, 2006

Não há coincidências?


Muita gente ainda anda desconcertada com o discurso proferido pelo Presidente da República nos 32 anos do 25 de Abril. Queriam que falasse das contas públicas, dos relatórios do Banco de Portugal ou da OCDE, que apontasse o caminho ao Governo ou que, pelo menos, puxasse as orelhas aos deputados faltosos. A verdade é que Cavaco Silva preferiu demonstrar, à sua maneira, que a justiça social não é património da esquerda e pediu um compromisso cívico para a inclusão social. Com a participação de todas as forças políticas e num ambiente de concertação social.
Entretanto, na defesa do estafado Estado Social, Sócrates foi esta quinta-feira à Assembleia da República apresentar não só as cinco propostas para uma reforma da Segurança Social, como também falar da "evolução dramática da natalidade", do "reforço da protecção na invalidez e na deficiência". Protecção a ser alargada "às crianças e jovens órfãos". Entre as cinco medidas consta também o patamar máximo para as pensões pagas pelos sistemas públicos. Tudo claro, reforçou o primeiro-ministro, com muita abrangência e se possível com uma ajudinha da concertação social.
É claro que isto ainda não significa uma adequação da agenda política do Governo à do Presidente. Até porque o pedido de Cavaco Silva para começar a tentar encontrar soluções para reduzir o dualismo social ou o "Portugal a duas velocidades" leva tempo a realizar e não passa só por um apertar dos escalões das reformas, passa pela redução das distâncias entre litoral e interior e passa, sobretudo, por "não pedir mais sacrifícios a quem viveu uma vida inteira de privação". E isso Sócrates ainda não pode prometer.
Mas será mera coincidência que num dia o PR fale de um "compromisso cívico para a inclusão social" e que, dois dias depois, o primeiro-ministro apresente de rompante as várias mexidas na Segurança Social, muitas delas ainda não devidamente estudadas mas prontas a levar à AR, sempre com muito cuidado de arranjar consensos (que a maioria absoluta até dispensa) e de ter alguma sustentação social para as medidas? Francamente não sei, fico à espera que os mesmos que descobrem vocações cesaristas no PR me digam, mas lá que o PM anda a tomar muitas notas no seu moleskine, lá isso deve andar...